segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Radio Days

A Pitty postou um novo texto no blog O Boteco .Tire suas próprias conclusões sobre a opinião da Diva para com as rádios do Brasil.Confere aí !

Radio Days

''Uma curiosidade: alguém aí ainda escuta rádio? Elas tocam as músicas que você quer ouvir? Quantos já desistiram? Quem ainda acredita que é possível, ou mesmo necessário?


Enquanto artista, ainda acho necessário. Tenho consciência de que as rádios atingem pessoas que não têm o privilégio de ter um mp3 player, ou comprar Cd, ou de ouvir música na internet. Ou mesmo as pessoas que estão no táxi, na academia, no supermercado, no trânsito. Pessoas de diferentes camadas sociais, em lugares distintos. É pensando em chegar nessa galera que ainda me preocupo com esse papo.

Isso surgiu porque ontem acordei com um barulho daqueles. Na internet e no twitter vi uma galera postando a tag #LiberdadeMusical e comentando sobre uma suposta censura das rádios sobre a nossa música “Fracasso”, tendo a guitarra como grande vilã da história. Foi uma movimentação espontânea deles, e como tinha meu nome no meio aproveito pra me juntar a essa discussão.

Em tempo: não houve “censura”, e talvez a guitarra não seja bem o foco da questão.

Antes de mais nada, essa situação não diz respeito necessariamente à minha banda. Não é pessoal. É um panorama geral, que envolve todas as bandas de rock. Essa restrição quanto à guitarras mais evidentes e sons mais pesados não é de hoje, mas veio se intensificando de alguns anos pra cá. Quando começamos há uns seis anos atrás com “Máscara”, houve muitas barreiras mas ainda foi possível ter na rádio uma música com guitarras altas, quase cinco minutos, parte em inglês. Existia uma “rádio rock” pra comprar a briga, e existia um público específico dessa rádio que ligava pedindo a música, e só a partir daí é que a coisa começou a se espalhar. Tivemos sorte de ter isso na época. Hoje, seria praticamente impossível.

Alguns fatores contribuem pra essa impossibilidade atual. Não existe mais, dentre as grandes emissoras do país, nenhuma rádio especializada em rock. Hoje estão todas misturadas. Tocam pop e R&B, e sendo as músicas mais genéricas a grande preferência da massa, é compreensível que o rock tenha ficado acuado. Essa falta de segmentação, a ausência de um lugar específico para ouvir rock, fez com que o público também ficasse misturado. Pelo público de música pop ser maior, eles têm mais espaço; e os poucos artistas de rock que ainda conseguem entrar na programação são “convidados” a suavizar suas músicas para não assustar o ouvinte médio. Do contrário, não toca.
E do mesmo jeito que um “roqueiro” pode se sentir ofendido por ter que escutar um poperô logo depois de uma banda que ele gosta, o ouvinte de pop também pode se incomodar com o “barulho” entre um R&B e outro. Isso gera uma padronização geral, para que nada destoe e agrade a gregos e troianos. Mas isso é saudável? Essa mistura toda agrega ou enfraquece?

É claro que já passamos por isso, eu e inúmeras bandas. Sugerem versão acústica, sugerem remixar a faixa para amainar as guitarras, editar pra cortar o solo. Particularmente nunca aceitei essas sugestões e dei um jeito de fugir desses artifícios por um motivo simples: aí, não seria mais minha obra. Seria um engano, um arremedo do trabalho cuidadoso que fizemos em estúdio. Não tenho nada contra versão acústica, mas penso em fazê-lo por vontade artística, para um projeto específico. Jamais para caber num formato pré- estabelecido.

Mas isso é uma posição nossa aqui, outros parecem não se incomodar com esse tipo de concessão. Porém, dizer “não” sozinho não tem adiantado muita coisa. Sempre vai ter uma banda que vai aceitar pra se encaixar no perfil da programação, e isso acaba excluíndo os que querem manter o som do jeito que ele é. Escolhas, sempre as escolhas.

Aproveito para chamar outras bandas e artistas para esta conversa. Como vocês se sentem diante desse cenário? O que pensam de verdade sobre isso? Escrevam, publiquem em blogs, se manifestem. Vamos discutir juntos sobre isso, gostaria de saber o posicionamento de vocês.

E agora, ao público:

A teoria é: as rádios oferecem o que as pessoas querem ouvir. É isso o que, de fato, vocês querem ouvir? Se for, tudo bem. Recolho-me a minha insignificância e espero o mundo girar pro lado do rock outra vez.

Se não é, então as rádios precisam saber que ainda tem gente a fim de escutar rock, guitarras, letras mais complexas. E o único jeito deles saberem disso é com vocês se manifestando. Ligando pra rádio da sua cidade, mandando email, pedindo a música que você quer ouvir. Se vocês não se fizerem ouvir, se isso não chega até eles, jamais saberão que tem gente a fim de escutar coisas diferentes. O público tem voz ativa, e não há jabá que segure uma música não pedida na programação.

Dá trabalho e exige crença de que ainda é possível. Se acha que vale a pena, faça. Se está cético o suficiente pra achar que isso é uma grande baboseira, é um direito seu.



* Irônico: Se as rádios acham que nosso som tem guitarra demais, outros nos acusam de sermos “pop” e comercial. Vai entender.

* Irônico 2: Mais de um ano se passou e “Me Adora” não sai das mais pedidas do público, atrapalhando inclusive a própria evolução do single seguinte, “Fracasso”. Uma tem que sair pra outra de fato entrar. O mais louco é que quando apresentamos "Me Adora" pela primeira vez, houve uma certa resistência em tocá-la. Foi bem aos poucos e demorou pra engrenar. Mas de longe e depois que a coisa rola, todo jardim parece mais verde...''

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